Cat Power — Wanderer: Resenha

Rahif Souza
3 min readOct 8, 2018

Ano: 2018
Selo: Domino
Produção: Cat Power
Faixas: 11
Nota: 7,5

Charlyn Marie “Chan” Marshall é uma daquelas artistas que possuem certa singularidade, devido ao seu timbre de voz rouco e sua aura excêntrica, características sempre foram expressas nas suas canções em toda a sua carreira. Agora, a cantora que adota o nome artístico de Cat Power, lança o seu décimo disco, chamado Wanderer, que mostra toda a sua visão de mundo e feminilidade.

O álbum carrega com si algumas transformações que acompanharam Marshall desde o seu último trabalho, Sun (2012). Agora ela é mãe de um menino de três anos, e tem que se dividir entre essa responsabilidade e sua carreira profissional, algo que está ilustrado na capa de Wanderer: a imagem mostra parte de uma guitarra e do filho da artista. Outra diferença importante está relacionada ao fato da mudança de gravadora: Cat Power deixou a Matador, seu selo desde 1996, pois esta exigia que Marshall começasse a buscar um som ainda mais pop do que foi o seu último álbum. Agora, a artista trabalha com a Domino, reforçando o aspecto de nova etapa encontrado em Wanderer.

As composições, que sempre foram um ponto de destaque em relação à Chan, estão ótimas. O disco possui grande carga de personalidade, e transmite perfeitamente os posicionamentos da cantora em diversos sentidos; em In Your Face, Cat Power faz uma crítica ao comportamento americano de vida, como nos versos “You never need, you’re American/You never take what you say seriously”. Em Woman, primeira faixa escrita para Wanderer, e que tem participação de Lana del Rey, Marshall aborda o orgulho de sua feminilidade em meio a uma sociedade sexista (“I’m a woman of my word, now haven’t you heard?/My word’s the only thing I’ve ever needed”). Black contém uma das temáticas mais pesadas do álbum: narra a batalha da artista contra transtornos mentais, e a perda de diversos amigos por conta disso (“Whoa, who’ll make it through?/How was I to know black would’ve turned from me to you?”).

Wanderer também marca a volta de Cat Power para uma sonoridade mais leve, algo presente nos maiores sucessos da cantora, como Moon Pix (1998) e The Greatest (2006). O disco é bastante silencioso, com uma pegada mais folk e blues, e as melodias são compostas basicamente pelo piano e por arranjos de guitarra/violão. É o que se encontra na faixa que leva o nome do álbum, com um instrumental bastante baixo. Em canções mais animadas, como You Get, essa estrutura também se mantém, exceto pelos instrumentos de corda mais carregados, somados à voz mais enérgica de Chan. Stay, cover de Rihanna, é uma das músicas mais bonitas do ano, e o resultado de uma versão ainda mais triste do que a original, graças à junção da ausência de instrumentos e do jazz piano.

Wanderer é o responsável pela volta às raízes de uma artista com mais de vinte anos de carreira, e se não traz grandes novidades, serve para matar a saudade do que há de melhor em Cat Power. O disco é equilibrado, e inspira quem tem como referência uma das maiores cantoras das duas últimas décadas.

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Rahif Souza

Estudante de Letras na UNIFESP, ama música e futebol. Nas horas vagas escreve críticas musicais e maratona animes. e-mail: rahifsouza92@gmail.com