Crítica: Ariana Grande — thank u, next

Rahif Souza
3 min readFeb 21, 2019

Ano: 2019
Selo: Republic Records
Produção: Andrew “Pop” Wansel, Brian Malik Baptiste, Happy Perez, ILYA, Max Martin, NOVA WAV, Scootie, Social House & TBHits
Faixas: 12
Nota: 6,5

Ariana Grande faz parte daqueles casos raros do pop atual, por ser responsável pelo encontro de músicas com impacto comercial, sem se distanciar da autenticidade e da intimidade para com quem ouve seus discos. Em Sweetener (2017), trabalho que antecedeu o recém-lançado thank u, next, ela alcançou a aclamação com a crítica especializada, trazendo elementos de R&B aliado à questões sobre emponderamento e auto aceitação; agora, em thank u next, Ariana se aproxima do hip-hop (que já tinha certa influência em menor grau nos álbuns anteriores), em especial do trap, enquanto na maior parte do tempo conta como sobreviveu a um dos períodos mais complicados da sua vida.

thank u, next é o trabalho mais pessoal de Ariana; é a primeira vez que ela participou de todas as composições, o que resulta em letras de intensa genuinidade, sendo que o próprio titulo do álbum também acaba denunciando essa assinatura: o nome faz referencia a um tweet da própria cantora (e que foi deletado), motivado por uma piada feita pelo seu ex-namorado, Pete Davidson, quando no Saturday Night Live o mesmo ironizou o fim do relacionamento dos dois. Aliás, relacionamento é um dos pontos centrais aqui, já que há momentos em que é revelado como Ariana se sente sobre o seu ex-namorado, o rapper Mac Miller, que morreu no ano passado; há alguns trechos em que isso é explicito, como na penúltima faixa, thank u next: “Wish I could say, ‘Thank You’ to Malcolm/’Cause he was an angel”.

Há outros instantes em que o álbum se fixa em outros tópicos: as inseguranças de Ariana em needy (“And sorry if I say sorry way too much”), e a sua dificuldade em negar/esconder seus sentimentos, relatados em fake smile (“I can’t fake another smile/I can’t fake like I’m alright). É confortante ver como a cantora lida de certa forma bem com esses problemas, colocando toda essa carga emocional nas suas músicas; vale lembrar que, no período dos últimos dois anos, além da morte de Mac e do término com Pete, Ariana teve que lidar com outro grande abalo: o atentado terrorista em um de seus concertos, na cidade de Manchester, na Inglaterra.

O problema em thank u, next, falando na sonoridade, é o excesso de beats e rimas que acabam deixando as melodias mais rápidas, desperdiçando o potencial vocal de Ariana; se o disco apostasse em um instrumental mais apontado para o R&B, com arranjos mais suaves, o resultado poderia ser mais satisfatório. É importante apontar também que a cantora, ao apostar no trap, segue uma tendência do mainstream, uma vez que hoje o gênero (e o hip-hop em si) é um dos que mais agrada o público. De qualquer forma, quando esses elementos estão ausentes, ocorrem os pontos altos da obra, como a parte final de imagine e ghostin’, facilmente a melhor faixa do álbum.

Apesar de alguns defeitos, thank u, next consegue demonstrar a maturidade que Ariana alcançou com o decorrer dos anos, fazendo dela um dos principais nomes da música pop. O álbum é uma experiência imersiva no mundo da cantora, fazendo dele um ponto de consolidação na sua carreira.

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Rahif Souza

Estudante de Letras na UNIFESP, ama música e futebol. Nas horas vagas escreve críticas musicais e maratona animes. e-mail: rahifsouza92@gmail.com