Crítica: Solange — When I Get Home

Rahif Souza
3 min readMar 16, 2019

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Ano: 2019
Selo: Columbia Records
Produção: Christophe Chassol, Daniel “Julez” J Smith II, Dev Hynes, Earl Sweatshirt, Jamire Williams, John Carroll Kirby, John Key, Metro Boomin, Panda Bear, Pharrell Williams, Solange, Standing on the Corner, Steve Lacy & Tyler, the Creator
Faixas: 19
Nota: 8,5

Poucos artistas demonstram tanta sensibilidade em suas obras quanto Solange, cantora que alcançou grande sucesso devido a seu aclamado A Seat at the Table (2016). Agora, com seu recém-lançado When I Get Home, Solange não tem medo de percorrer novos rumos e assume tudo que quer ser; como sintetiza bem a arte da capa, o novo álbum é um distanciamento de seu último trabalho, com uma aura mais alegre e experimental, mas que mantém o nível de qualidade artística.

São inúmeros envolvidos em When I Get Home, e que passam por diferentes gêneros; assinam a produção nomes significativos como Dev Hynes (Blood Orange), Earl Sweatshirt, Metro Boomin, Panda Bear (Animal Collective), Pharrell Williams, Steve Lacy, Tyler, The Creator e a própria Solange. O resultado é um disco que em um primeiro momento estranha, mas que posteriormente encanta graças às camadas sonoras de piano e sintetizadores constantemente presentes, se transformando em um lo fi hip hop intimista e tocante; Solange também caminha pelo jazz, R&B e até pela música gospel, como nos coros do refrão de Stay Flo.

Todos esses elementos sonoros citados e que aparecem em When I Get Home tem o objetivo de prestar homenagem à Houston, local em que Solange nasceu e cresceu; por isso, há muitas referências à black music característica da Terceira Ala, área em que ela foi criada. Tanto nas letras, quanto na sonoridade, isso fica nítido: Almeda, que tem participação de Playboi Carti e The Dream, ao mesmo tempo em que leva o nome de uma famosa região da cidade texana, também é uma demonstração de orgulho da cantora por sua representativade, por meio dos seus beats e de seus versos arrebatadores: “Black skin, black braids/Black waves, black days/Black baes, black things/These are black-owned things/Black faith still can’t be washed away”. Outras faixas flertam com o southern hip hop de Houston, com sua estrutura melódica baseada no chopped and screwed (técnica de remix que deixa a música mais lenta e com batidas mais pesadas), como My Skin My Logo e Binz; somados à voz exuberante da artista, o efeito se torna incrível.

O ponto mais negativo do álbum é o fato das músicas serem muito curtas, oferecendo um ritmo frenético à When I Get Home; o trabalho tem uma faceta que passa a sensação de que se está ouvindo a mesma faixa, o que pode gerar certo tédio se você gosta de uma sonoridade mais diversificada. Para entender o álbum é preciso paciência, e ouvir mais de uma vez com certeza melhorará a experiência, já que assim é possível verificar os elementos singulares que constroem a obra, como os samples utilizados nos interlúdios e nas próprias canções de maior duração que reverenciam/referenciam diversas personalidades negras, como Debbie Allen e Phylicia Rashad em S McGregor e Family Circle em Beltway; ou os momentos em que When I Get Home lembram discos contemporâneos consagrados como Blonde/Endless e Flower Boy (nesse caso, a participação de Tyler na produção fez toda a diferença), graças a variação de tempos e ganchos com versos que pegam o ouvinte facilmente. São pequenos detalhes que fazem a diferença e vão surpreender quem estiver mais atento.

Solange demonstra em When I Get Home que está extremamente confortável em arriscar e entregar uma proposta diferente do que a trouxe reconhecimento; Apesar do que representa A Seat at the Table, o novo álbum também consegue passar a mesma mensagem de representatividade, mas de uma forma completamente diferente, fazendo referencia a sua terra natal e transformando isso em uma mensagem de autoaceitação. Dessa forma, a cantora consegue confirmar mais uma vez que é uma das maiores artistas da atualidade.

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Rahif Souza

Estudante de Letras na UNIFESP, ama música e futebol. Nas horas vagas escreve críticas musicais e maratona animes. e-mail: rahifsouza92@gmail.com