Os 30 melhores discos de 2020

De Gorillaz a Fiona Apple, aqui estão os álbuns que mais gostei nesse ano.

Rahif Souza
12 min readDec 25, 2020

Em um ano tão atípico pra todo mundo, a música nos brindou com diversos álbuns maravilhosos. O melhor de tudo é que fica impossível destacar só um estilo; o revival disco talvez tenha sido o ponto mais marcante, mas o hip-hop, o folk e o rock (de forma não-convencional) proporcionaram belos momentos também.

Sendo assim, chegou a hora de você conhecer aqueles que eu considero os 30 melhores discos de 2020 (incluindo LPs e EPs).

30# Gorillaz — Song Machine, Season One: Strange Timez

Começando a lista por Song Machine, Season One: Strange Timez, sétimo disco do Gorillaz. O projeto animado do britânico Damon Albarn pode ser considerado um dos mais criativos do século 21. E Song Machine… confirma esse status, em uma viagem de sonoridades. É claro também que as colaborações ajudaram demais, com destaque para “The Valley of The Pagans”, com o cantor Beck, e a dançante “Aries”, com a lenda Peter Hook.

Ouça: “The Valley of The Pagans

29# Mac Miller — Circles

Circles, disco póstumo do rapper Mac Miller, é muito mais do que um álbum para que os fãs se “despeçam” dele. É um trabalho que demonstra como o cantor era uma pessoa extremamente positiva, apesar das complicações que o mesmo enfrentou. Com isso, Circles foge da melancolia que muitas vezes cerca trabalhos póstumos, mostrando que podemos encarar a vida de uma forma muito melhor.

Ouça: “Blue World

28# Denzel Curry & Kenny Beats — UNLOCKED

Nos últimos dois anos — especialmente desde TA1300, Denzel Curry se consolidou como um dos grandes nomes do hip-hop atual. Afinal, o seu flow é insano e seus versos são cheios de criatividade. UNLOCKED, seu último EP em parceria com o produtor Kenny Beats, combina essas características com beats e samples que soam estranhos e envolventes. Até por isso, mesmo em apenas 8 faixas, fica impossível não lembrar do clássico Madvillainy. Fato é que Denzel e Kenny demonstram em UNLOCKED os motivos pelos quais ambos já são referências no rap.

Ouça: “Take_it_Back_v2

27# Lianne La Havas — Lianne La Havas

O terceiro disco da cantora britânica Lianne La Havas é daqueles que te encantam logo de cara; é simplesmente impossível não se apaixonar pela voz de Lianne. O seu self-titled discute os estágios de um relacionamento, desde o romance até a ruptura. Tudo isso é embalado por um neo soul com influências de Joni Mitchell, Milton Nascimento e Destiny’s Child. O resultado é um instrumental que parece ter nascido para se juntar à voz da cantora.

Ouça: “Weird Fishes

26# The Weeknd — After Hours

After Hours foi o grande momento do mainstream no ano. Não apenas isso, mas o registro também pode ser considerado o melhor LP de The Weeknd em toda a sua carreira. O álbum transmite diversos sentimentos; há espaço para a melancolia, como em “Escape From LA”, mas também para momentos mais animados, como no hit “Blinding Lights”. Com esse trabalho, finalmente vimos todo o potencial de Abel como artista.

Ouça: “Heartless

25# Febem, Fleezus & Cesrv — BRIME!

Outro EP presente na lista, e nem poderia ser diferente; BRIME! é a prova de como o Grime é cada vez mais importante na cena musical do Brasil. A colaboração entre Febem, Fleezus e o produtor Cesrv dá um novo significado ao Grime, com elementos da música brasileira, especialmente o funk. Com isso, é possível prever que BRIME! é um projeto que vai ter ainda mais importância daqui alguns anos.

Ouça: “CHELSEA

24# Jay Electronica — A Written Testimony

2020 foi cheio de acontecimentos improváveis, e na música isso não foi diferente. E um deles foi o lançamento do tão aguardado disco de estreia do rapper Jay Electronica, A Written Testimony, depois de uma década de espera. A notícia boa nesse caso é que o álbum não decepciona, com Electronica mostrando toda a sua habilidade lírica e também como produtor. O álbum é uma pequena retrospectiva sobre o que já conhecemos de Jay, especialmente na questão da fé. É preciso ressaltar também as inúmeras colaborações de Jay-Z para o disco, sendo a melhor delas em “Flux Capacitor”.

Ouça: “Flux Capacitor

23# Angel Olsen — Whole New Mess

Muito mais do que um álbum de demos; é assim que pode ser considerado Whole New Mess, disco da Angel Olsen composto por b-sides de All Mirrors, de 2019. O ambiente de solidão e a estética mais intimista de Whole New Mess trazem um novo significado para músicas que já eram ótimas, como “(New Love) Cassette”. É como se Angel abraçasse a solidão em vez de superá-la, como em seu disco anterior.

Ouça: “Whole New Mess

22# Katie Gately — Loom

Uma das boas surpresas desse ano é Loom, disco cantado e produzido por Katie Gately. Um álbum intenso, inspirado no falecimento da mãe de Katie, em 2018. O álbum é cheio de fragmentos sonoros não-convencionais, que transporta o ouvinte para um momento de reflexão e catarse.

Ouça: “Waltz

21# Ana Roxanne — Because of a Flower

O segundo disco de Ana Roxanne, Because of a Flower, se inspira em sons minimalistas para criar experiências extremamente profundas. O álbum foi produzido em cinco anos, inspirado por discussões sobre padrões de gênero, beleza e a crueldade do mundo. A sensação de conversa íntima que o álbum passa é incrível, por meio dos cochichos vocalizados de Ana.

Ouça: “Suite Pour L’Invisible

20# Jessie Ware — What’s Your Pleasure?

No começo do texto sobre a lista, eu disse como o ano foi marcante em relação ao Revival Disco. E se isso pode ser representado por algum álbum, é por What’s Your Pleasure?, da cantora Jessie Ware. O grande mérito aqui, em relação a outros discos de sonoridade parecida, foi não ter ficado tão preso ao passado. Apesar dos fortes elementos da era disco nos anos 70, é possível ver por meio das camadas sonoras como o álbum consegue utilizar vários elementos mais novos da música eletrônica, lembrando um pouco os trabalhos da cantora Robyn.

Ouça: “Spotlight

19# Kelly Lee Owens — Inner Song

Inner Song é o segundo álbum de estúdio da cantora e produtora galesa Kelly Lee Owens. Com um combo de techno e dreampop, o disco consegue soar por vezes silencioso, e ao mesmo tempo pulsante. A produção, feita inteiramente por Kelly, combinada com seu ótimo vocal, proporciona em Inner Song um dos melhores registros de música eletrônica do ano.

Ouça: “On

18# HAIM — Women in Music Pt. III

O terceiro disco das irmãs HAIM é também o ápice da carreira do trio. Apostando em arranjos que não deixam de lado elementos mais dançantes, o HAIM conseguiu superar qualquer expectativa. As composições também são ótimas, discutindo especialmente como é ser uma mulher em uma indústria completamente sexista.

Ouça: “3am

17# Fleet Foxes — Shore

O quarto disco da banda de indie folk Fleet Foxes é um sopro de leveza em um ano caótico. Shore, apesar de ficar um pouco abaixo se comparado aos seus antecessores, é um disco totalmente necessário para os últimos momentos que vivemos. Além disso, Shore pode ser considerado o trabalho que tem mais “a mão” do vocalista e produtor Robin Pecknold, que mostra mais uma vez porque é um dos melhores letristas e vocalistas da última década.

Ouça: “Sunblind

16# Caribou — Suddenly

O décimo álbum do canadense Dan Snaith como Caribou é o mais acessível da sua carreira. Ao mesmo tempo, nunca se viu Dan experimentando tanto, especialmente com sintetizadores. O álbum é dançante, e essa imersão na música eletrônica fez bem demais ao músico. Suddenly não é apenas acessível, como também representa o melhor do que já vimos do Caribou.

Ouça: “You and I

15# Nubya Garcia — SOURCE

É difícil não se impressionar com SOURCE, álbum da saxofonista e compositora Nubya Garcia. A produção é meticulosa, e cada nota soprada por Nubya se encaixa perfeitamente na melodia. Uma viagem de uma hora em instrumentais riquíssimos, e uma produção perfeita.

Ouça: “Together Is A Beautiful Place To Be

14# Thundercat — It Is What It Is

O multi-instrumentista Thundercat exala talento em tudo o que faz, e em It Is What It Is, isso não é diferente. Apesar de esse ser o álbum mais “comercial” de Stephen, o mesmo não deixa de soar diferente de praticamente tudo que escutamos, com uma mistura de jazz fusion e hip hop. Elogios também para a produção, com nomes de respeito como Flying Lotus e BadBadNotGood.

Ouça: “Fair Chance

13# Thurston Moore — By The Fire

Mesmo sendo um nome ligado ao rock dos anos 80 e 90, é impressionante como Thurston Moore consegue sempre nos surpreender. Sua música soa cada vez mais atual, algo que se reflete em By The Fire. Com letras poderosas e positivas, o álbum também mostra como Moore continua ativo politicamente, mesmo que do seu jeito. Além disso, os inúmeros solos e variações de guitarra do ex-Sonic Youth nos fazem lembrar do porquê ele é tão reverenciado.

Ouça: “Cantaloupe

12# Perfume Genius — Set My Heart on Fire Immediately

O quinto disco de estúdio do cantor Michael Hadreas é um carrossel de emoções e ritmos. Em Set My Heart on Fire Immediately, o Perfume Genius mistura pop, shoegaze, R&B e industrial, entregando uma das experiências musicais mais catárticas de 2020. O disco foca na auto aceitação, e é impossível não se sentir mais leve depois de escutá-lo.

Ouça: “Describe

11# BK — O Líder em Movimento

Após o reconhecimento alcançado com Gigantes, o rapper BK volta a encantar com o Líder em Movimento. O álbum não possui nenhuma colaboração, sendo o projeto mais intimista do cantor. Além das questões sonoras (que merecem todos os elogios), O Líder em Movimento é marcante pelo que se propõe a discutir: a ascensão da extrema-direita e os problemas ligados ao racismo no Brasil e no mundo.

Ouça: “Porcentos 2

10# — Moses Sumney — grae

Moses Sumney é daqueles artistas que ninguém consegue rotular. E que na realidade, nem deve. Em grae, Moses se expressa por meio da arte, explorando diferentes conceitos de amor, por diferentes ambientes sonoros. Tudo isso é embalado por uma voz incrível.

Ouça: “Cut Me

09# Mary Lattimore — Silver Ladders

Um disco que ao não dizer nada, fala muito, sobre tudo; esse é Silver Ladders, da harpista Mary Lattimore. Ao escutar o trabalho, a sensação que se tem é que a harpa tocada por Lattimore está invadindo o nosso corpo, conversando com nosso eu. A produção é incrível, conseguindo inserir o delicado som de Mary em camadas sonoras extremamente densas, sem apagar o brilho da artista.

Ouça: “Pine Trees

08# Laura Marling — Song For Our Daughter

O sétimo álbum da britânica Laura Marling mostra como poucos artistas compõem como ela. Em Song For Our Daughter, Marling coloca um pedaço de si, conversando com uma filha imaginária sobre os seus medos, segredos e traumas. Ao mesmo tempo que é extremamente pessoal, o disco consegue conversar com qualquer ouvinte que se coloque no lugar de Laura.

Ouça: “Held Down

07# Phoebe Bridgers — Punisher

Se essa lista fosse somente sobre as personalidades da música no ano, Phoebe Bridgers estaria em uma posição ainda mais alta nessa lista. Nesse sentido, é até curioso ligar aquela personalidade bem-humorada do seu Twitter com as canções cheias de carga emocional que encontramos em Punisher. O álbum retrata as inseguranças de Phoebe sobre o mundo, e quase que sem querer, consegue enquadrar todo o medo de uma geração com seus vinte e poucos anos. Assim, fica muito difícil não querer abraçar a música de Bridgers.

Ouça: “Kyoto

06# Freddie Gibbs & The Alchemist — Alfredo

Após a parceria bem-sucedida com Madlib em Bandana, Freddie Gibbs voltou a trabalhar com outro produtor talentoso em 2020: The Alchemist. O resultado é Alfredo, um dos melhores trabalhos da carreira de Freddie. O cantor mais uma vez trabalha com rimas por cima de beats bem trabalhados, mostrando toda a sua habilidade e versatilidade como rapper.

Ouça: “Scottie Beam

05# Run The Jewels — RTJ4

O grande disco de hip-hop do ano ficou por conta de RTJ4, quarto disco do duo Run The Jewels. O trabalho segue o padrão altíssimo que Killer Mike e EI-P alcançaram nos discos anteriores, com uma produção impecável e Mike rimando melhor do que nunca. Além disso, o disco foi lançado no mesmo momento em que os protestos ligados ao BLM estouravam nos Estados Unidos, se tornando também uma forma de protesto.

Ouça: “Ju$t

04# Adrianne Lenker — songs / instrumentals

Adrianne Lenker já havia se destacado com os dois trabalhos marcantes do Big Thief em 2019, e em 2020 retornou com um disco duplo: songs / instrumentals. Como o próprio nome do(s) álbum diz, é um trabalho dividido entre músicas cantadas e instrumentais; o resultado é uma Lenker que soa mais emotiva do que nunca. O registro é marcado pela perda e pelo isolamento, mas acaba servindo como apoio, como se Adrianne quisesse dizer que vai ficar tudo bem.

Ouça: “anything

03# Rina Sawayama — SAWAYAMA

Sabe aquilo que a gente define como o “trabalho de uma vida”? É o que é possível perceber quando escutamos SAWAYAMA, disco de estreia da cantora Rina Sawayama. O álbum é marcado por influências tanto pessoais quanto musicais de Rina; é só pensar no New Metal de “STFU!”, no rock à lá Evanescence de “Dynasty” e outros ritmos típicos dos anos 2000 que estão presentes no disco. Além disso, o álbum discute diversos pontos marcantes da vida de Rina, como traumas familiares e também como foi crescer em Londres, uma vez que ela nasceu em Niigata, no Japão.

Ouça: “Bad Friend

02# Yves Tumor — Heaven to a Tortured Mind

Quando falamos de Heaven to a Tortured Mind, estamos falando do grande álbum de rock do ano. Isso pode até soar confuso se você conheceu Yves Tumor graças a Safe in the Hands of Love, seu disco de 2018 que apostava em um pop experimental. Porém, em 2020, Yves leva ao pé da letra a palavra criatividade, com uma sonoridade nunca vista nele até então. O resultado disso são obras-primas como “Gospel For a New Century” e “Kerosene!”.

Ouça: “Kerosene!

01# Fiona Apple — Fetch the Bolt Cutters

Uma das melhores surpresas que eu tive esse ano foi o lançamento de Fetch the Bolt Cutters, quinto LP da Fiona Apple. E mais uma vez vimos como Fiona é daquelas artistas que não precisa estar nos holofotes o tempo todo; a sua arte fala por ela mesma. Apple aposta em um instrumental diferente de qualquer coisa que você já tenha escutado, falando mais uma vez sobre os seus demônios. O álbum que precisávamos para 2020, uma vez que ele nos ensina como nos libertar desses demônios. Por isso, ele é o maior disco desse ano.

Ouça: “Shameika

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Rahif Souza

Estudante de Letras na UNIFESP, ama música e futebol. Nas horas vagas escreve críticas musicais e maratona animes. e-mail: rahifsouza92@gmail.com