Os 30 melhores álbuns de 2019

De Bring Me The Horizon a FKA Twigs, resolvi falar um pouco sobre os trabalhos que se destacaram nesse ano.

Rahif Souza
13 min readDec 14, 2019

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2019 fechou de forma incrível uma década em que tantas novidades surgiram na música; artistas inovando, velhos (e talentosos) conhecidos lançando ótimos trabalhos…teve isso e muito mais. Mais uma vez, assim como foi a tendência durante os últimos dez anos, o destaque ficou para o Hip Hop e também para artistas mulheres, que apresentaram discos incríveis e que com certeza servirão como um norte para futuros projetos.

Listas são sempre polêmicas, mas diante de tudo isso que eu falei, tentei sintetizar 2019 na música com os 30 discos que mais me agradaram nesse ano. Do Emo ao Rap, do Indie ao Industrial, vale a pena repassar por esses álbuns.

30º Djonga — LADRÃO

Depois do ótimo O Menino que Queria Ser Deus, de 2018, o rapper mineiro Djonga apareceu em março com o seu terceiro disco de estúdio, LADRÃO. E ainda que o mesmo não supere o seu antecessor, o trabalho serve para mais uma vez afirmar Djonga como um dos (se não o maior) nome do rap nacional na atualidade. LADRÃO confirma a ótima vocação do artista para temas importantes como o racismo estrutural e a valorização das raízes.

Ouça: “HAT-TRICK”

29º Bring Me The Horizon — amo

Há bastante tempo na estrada, o BMTH talvez tenha lançado o seu trabalho mais consistente nesse ano, o interessante amo. Inspirado pelos altos e baixos de um relacionamento, e também pelo namoro do vocalista Oliver Sykes com a brasileira Alissa Salls, amo é o resultado de uma transição sonora que o Bring Me The Horizon já buscava e que mostrou toda a competência da banda em tentar se reinventar; abandonar o metalcore e abraçar outros estilos foi um tremendo acerto.

Ouça: “mother tongue”

28º Lizzo — Cuz I Love You

Impossível não ficar empolgado com toda a energia que a cantora Lizzo passa nas suas canções; apostando numa sonoridade grandiosa e no seu excelente poder vocal, ela surpreende em cada uma das 12 faixas de Cuz I Love You. A capa, em que mostra uma Lizzo nua, encarando quem olha a foto, simboliza bem o que é o disco: uma experiência em que conhecemos melhor uma das personalidades mais interessantes do momento e que ganharam o devido reconhecimento em 2019.

Ouça: “Cuz I Love You”

27º Dave — PSYCHODRAMA

Ao longo dos últimos anos, a cena britânica de hip hop tem lançado cada vez mais artistas talentosos e que tem muito a oferecer; um deles é o rapper Dave, de Londres. Em 2019, com apenas 21 anos, ele lançou PSYCHODRAMA, seu trabalho de estréia; um disco cheio de camadas que nos inserem na mente do cantor. Simulando uma sessão de terapia, o álbum encanta pela capacidade de variação nas rimas e pela sonoridade com influências do grime e afrobeat.

Ouça: “Location”

26º Danny Brown — uknowhatimsayin¿

Dono de uma discografia sólida e de uma das vozes mais originais da cena do rap atual, Danny Brown lançou em 2019 seu quinto disco de estúdio, uknowhatimsayin¿. Com rimas cheias de ironias e humor, Danny escreveu mais um capítulo de sua excelente carreira com um disco de produção impecável e beats marcantes.

Ouça: “3 Tearz”

25º Black Alien — Abaixo de Zero: Hello Hell

É possível dizer que o terceiro álbum do rapper carioca Black Alien foi o melhor disco do rap nacional de 2019. Com influências do soul e jazz, Abaixo de Zero: Hello Hell proporciona uma experiência riquíssima ao ouvinte, onde o rapper consegue alternar com maestria entre a tristeza e alegria. O álbum possui 26 minutos, e incontáveis maneiras de despertar sentimentos em quem o escuta.

Ouça: ”Que Nem o Meu Cachorro”

24º La Dispute — Panorama

O quarto disco da banda de post-hardcore La Dispute é uma celebração a vida, abraçando todas as nuances de nossa existência; além disso, o grupo norte-americano consegue em Panorama apresentar novas fórmulas e modos de fazer música, com longos instrumentais, sem abandonar o caráter literário da banda.

Ouça: “FULTON STREET I”

23º Big Thief — Two Hands

2019 foi um ano intenso para o Big Thief; após lançarem no primeiro semestre o elogiado U.F.O.F, o quarteto lançou Two Hands, concebida para ser uma obra gêmea de sua antecessora. Entretanto, Two Hands é ainda mais encantadora pela sua simplicidade, e é impossível não se apaixonar pela voz de Adrianne Lenker.

Ouça:”Not”

22º Ana Frango Elétrico — Little Electric Chicken Heart

Com apenas 21 anos, Ana Frango Elétrico é mais um bom nome que surgiu nos últimos anos, vindo da cena alternativa carioca. Com influências da MPB, Tropicália e até Bjork, Little Electric Chicken Heart é uma obra que pode não convencer de cara, mas explora diversas direções; apesar da idade, Ana demonstra em seu disco maturidade e a vontade de experimentar de uma veterana.

Ouça: “Devia Ter Ficado Menos”

21º Jamila Woods — LEGACY! LEGACY!

Jamila Woods surgiu como uma das vozes mais promissoras da cena do R&B de Chicago, e entrega tudo que se espera dela em relação a talento no seu segundo disco de estúdio, LEGACY! LEGACY!. O disco é uma homenagem a vários artistas que influenciam e influenciaram Jamila como artista e pessoa; o R&B e o jazz entregue pela cantora, mais do que agradar, consegue materializar a paixão que Jamila sente por essas figuras históricas.

Ouça: “BASQUIAT”

20º Michael Kiwanuka — KIWANUKA

O britânico Michael Kiwanuka surgiu em 2012 como uma sensação do R&B. Anos depois, ele ainda prova porque é um dos artistas mais talentosos da música contemporânea; seu terceiro disco de estúdio, KIWANUKA, trabalha de uma perspectiva intimista o que é estar vivo no momento atual. Musicalmente falando, o álbum é brilhante ao misturar soul e ritmos africanos.

Ouça: “You Ain’t The Problem”

19º Rapsody — Eve

Rapsody é possivelmente uma das maiores rappers mulheres de todos os tempos; sua habilidade lírica e de rimar é uma das melhores do estilo, mantendo o ouvinte sempre interessado no que a artista tem a dizer. Eve, seu terceiro álbum de estúdio, é mais um desses momentos; o disco possui beats bastante experimentais, ao mesmo tempo que Rapsody homenageia grandes mulheres negras da história.

Ouça: “Oprah”

18º Freddie Gibbs & Madlib — Bandana

O produtor Madlib é um dos produtores mais cultuados do hip-hop; ele já se destaca desde a década passada, quando o mesmo lançou um dos grandes clássicos da história do rap, Madvillainy (2004), um álbum colaborativo com MF Doom. Em 2019, Madlib demonstrou que de forma perdeu a mão na hora de produzir discos incríveis; Bandana é mais um trabalho em dupla, dessa vez com Freddie Gibbs. O resultado é um show de beats e samples bem trabalhados, além do flow singular e capacidade vocal de Gibbs.

Ouça: “Palmolive”

17º Raphael Saaqid — Jimmy Lee

Raphael Saaqid já é um velho e premiado conhecido para o fã de soul; além disso, ele também é reconhecido por ter auxiliado na produção de A Seat at the Table, da cantora Solange. Em Jimmy Lee o cantor resolveu apostar numa sonoridade que mistura elementos do hip-hop e do Blues, soando ainda mais nostálgico e ao mesmo tempo único. O disco é uma homenagem ao seu irmão, que faleceu após problemas com drogas.

Ouça: “Rearview”

16º (Sandy) Alex G — House of Sugar

Apesar de ter apenas 26 anos, o compositor Alexander Giannascoli, mais conhecido como Alex G, já é um grande nome da cena independente, tendo se estabelecido com lançamentos no Bandcamp e sendo reconhecido ao trabalhar com Frank Ocean nos projetos Blonde/Endless. House of Sugar, seu novo disco de estúdio, demonstra toda a sua capacidade como multi-instrumentista, com arranjos de piano, guitarra e violino que transmitem delicadeza, ao mesmo tempo que as letras são cheias de ganchos que pegam o ouvinte de primeira.

Ouça: “Southern Sky”

15º JPEGMAFIA — All My Heroes Are Cornballs

“You think you know me”. Nunca a assinatura utilizada por JPEGMAFIA para sinalizar suas produções fez tanto sentido. Em All My Heroes Are Cornballs, Peggy nos mostra mais uma faceta de sua personalidade ainda intrigante, onde o mesmo narra sua relação com a fama e como isso influencia o seu comportamento. O disco mostra como o rapper/produtor amplia cada vez mais seus horizontes sonoros, recortando samples e beats, oferecendo uma experiência densa para quem o escuta.

Ouça: “Jesus Forgive Me, I Am a Thot”

14º Thom Yorke — ANIMA

Imagine o encontro entre Radiohead e o techno; esse é ANIMA, terceiro disco solo de Thom Yorke. Apesar disso, o álbum não se prende a uma só sonoridade, apesar da completa ausência de guitarras e do uso maciço de sintetizadores. Thom demonstra sensibilidade ao abordar temas do nosso cotidiano, enquanto explora o seu interesse por sonhos, inspirado em Carl Jung.

Ouça: “Dawn Chorus”

13º Mc Tha — Rito de Passá

Existe algo poderoso em Rito de Passá, disco de estréia da cantora paulistana Mc Tha. O álbum mistura elementos do funk, MPB e também é cheio de referências às religiões de origem africana. Com isso, Thais trouxe para a cena nacional um dos trabalhos mais originais dos últimos anos na música brasileira.

Ouça: “Coração Vagabundo”

12º Little Simz — GREY Area

A rapper britânica Little Simz lançou seu terceiro álbum de estúdio, GREY Area, e consegue, ao longo de 10 faixas, sintetizar um dos momentos mais cinzentos da nossa vida: entrar na vida adulta. O disco mostra todo o potencial artístico da artista, uma vez que a mesma não se limitou a apenas rimar, mas também se responsabilizou por tocar alguns instrumentos.

Ouça: “Boss”

11º Denzel Curry — ZUU

Denzel Curry é um representante da cena de rap da Flórida, e paga tributo a essa cena em ZUU; ao longo dos 30 minutos de disco, o rapper explora suas raízes, como foi crescer na sua cidade, Carol City, e traz suas maiores influências musicais, sendo um projeto completamente pessoal. Em ZUU, Denzel exibe versatilidade rimando, e também utilizando seu vocal de diversas maneiras, se firmando como uma das grandes vozes do hip-hop atual.

Ouça: “WISH”

10º Lingua Ignota — CALIGULA

Kristin Hayter é a cantora americana de post-metal que assume o nome artístico de Lingua Ignota; dona de uma voz melancólica e ao mesmo tempo maravilhosamente encantadora, a artista sobreviveu a um relacionamento marcado pela violência doméstica, e sempre procura utilizar suas músicas como experiências catárticas, expurgando toda a dor sofrida por seus traumas; em CALIGULA, os gritos de desespero que se unem a melodias intimistas transmitem toda a capacidade de Krisitn em transformar suas perturbações em arte.

Ouça: “DO YOU DOUBT ME TRAITOR”

9º Weyes Blood — Titanic Rising

Titanic Rising, quarto disco de estúdio da cantora Natalie Mering (aka Weyes Blood) é uma viagem que nos leva ao subconsciente da artista; a arte da capa (tranquilamente a melhor do ano) sintetiza o mundo de Titanic Rising, em que Natalie discute os seus problemas desde a infância e também o sofrimento que o amor acarretou em sua vida. Melodicamente, o disco é bastante influenciado por ritmos da década de 70, com distorções de instrumentos de corda e sintetizadores.

Ouça: “Andromeda”

8º Terno Rei — Violeta

Sucessor do ótimo Essa Noite Bateu Com um Sonho (2016), Violeta é o terceiro álbum da banda paulistana Terno Rei. Apostando em uma sonoridade mais simples e deixando o lo-fi dos primeiros trabalhos pra trás, Violeta consegue emocionar e atingir diferentes públicos; muito mais do que o maior sucesso comercial do Terno Rei, o disco conseguiu pegar aspectos do rock nacional oitentista sem soar clichê, somando esses elementos ao que já dava certo na sonoridade da banda. Destaque também para o vocal encantador de Ale Sater.

Ouça: “Yoko”

7º Sharon Van Etten — Remind Me Tomorrow

Desde o seu até então ultimo trabalho, Are We There (2014), a cantora Sharon Van Etten passou por diversas mudanças em sua vida: ela foi mãe, e até investiu na sua carreira como atriz. Essas transformações também dão o tom em Remind Me Tomorrow; Sharon abandonou o folk que marcou sua carreira e apostou em melodias cercadas por sintetizadores e também na presença de mais guitarras. Com isso, Remind Me Tomorrow pode ser considerado o melhor disco da sua carreira.

Ouça: “Seventeen”

6º Angel Olsen — All Mirrors

Marcada por uma personalidade aparentemente tímida que por muitas vezes também reluzia em sua música, a cantora Angel Olsen assumiu um lado divino com seu quarto disco de estúdio, All Mirrors. Apesar disso, esse talvez seja o disco mais vulnerável da cantora norte-americana, que aborda de uma perspectiva bastante pessoal o que é ser uma mulher nos dias de hoje, enquanto melodias grandiosas se escondem nas camadas das faixas.

Ouça: “Lark”

5º Solange — When I Get Home

Existem coisas que aparentemente só Solange Knowles consegue fazer; nesse caso, When I Get Home é um universo somente seu, em que a cantora flerta com o jazz experimental, o R&B, e o hip-hop de sua cidade natal, Houston. Com uma produção impecável, o disco sensibiliza o ouvinte de diversas formas, enquanto Solange fala sobre suas raízes.

Ouça: “Almeda”

4º Bon Iver — i,i

O quarto disco do projeto mais famoso do talentoso Justin Vernon é o fechamento de um ciclo; após falar sobre como o mundo o afeta em 22, A Million (2016), Vernon voltou os olhos para si mesmo em i,i. O grande mérito de i,i foi conseguir reunir tudo de melhor que o Bon Iver exibiu em outros trabalhos: melodias intimistas e o uso da voz de Justin como um instrumento.

Ouça: “Hey, Ma”

3º Nick Cave & The Bad Seeds — Ghosteen

Ghosteen é o primeiro disco inteiramente escrito após a trágica morte do filho de 15 anos do cantor Nick Cave. Entretanto, muito mais do que melancolia, o que encontramos em Ghosteen é alguém tentando encontrar conforto e sentido com tudo que ocorre em nossa existência. Por isso mesmo, canções que abordam diversas temáticas sobre o que é ser humano estão ainda mais aparentes nesse álbum. Ghosteen é um disco que, ao mesmo tempo que aperta, aquece o coração.

Ouça: “Bright Horses”

2º FKA Twigs — MAGDALENE

Inspirada pela força e por todo o mistério que envolve a figura de Maria Madalena, FKA Twigs trouxe MAGDALENE, até o momento seu melhor trabalho. A produção envolveu nomes que vão desde Kenny Beats até Skrillex, e é impressionante como o álbum ainda assim consegue ser extremamente pessoal, com diversos momentos em que Twigs consegue mostrar novos caminhos para a música pop.

Ouça: “holy terrain”

1º Tyler, the Creator — IGOR

“Igor. Isso não é Bastard. Isso não é Goblin. Isso não é Wolf. Isso não é Cherry Bomb. Isso não é Flower Boy.”

A declaração feita por Tyler, the Creator em suas redes sociais pouco tempo antes do lançamento de IGOR é carregada de uma simbologia que só se nota escutando o disco; o álbum não é apenas diferente de tudo que Tyler já fez, mas diferente de tudo que o rap, um dos gêneros mais inventivos dessa década, nos ofereceu nos últimos 10 anos. É praticamente impossível rotular o trabalho, mas o fato é que, com IGOR, o antigo líder do Odd Future traz novos rumos para o hip hop, em que a alternância entre rimas e vocais trabalhados é uma constante, e a voz é um termômetro para as melodias. Além disso, ao longo de suas 12 faixas, IGOR consegue abordas todas as nuances do amor, desde o aspecto mais positivo até ao mais doloroso e obsessivo. Um álbum que representa nossos sentimentos na contemporaneidade.

Ouça: “NEW MAGIC WAND”

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Rahif Souza

Estudante de Letras na UNIFESP, ama música e futebol. Nas horas vagas escreve críticas musicais e maratona animes. e-mail: rahifsouza92@gmail.com